Maçonaria

sábado, 14 de julho de 2012

MAÇONARIA E O MAÇOM CIDADÃO

 

               Sabemos que a “Instituição maçonaria” costuma ser motivo de muita curiosidade e algumas vezes de especulação no meio da população; por ser uma sociedade filosófica carregada de simbologia, achamos naturais estas lucubrações, portanto, antes de tudo gostaríamos de defini-la para que possamos discutir alguns tópicos da relação dos seus membros com a sociedade onde ela está inserida.
            Para este desiderato peço ajuda a um dos nossos irmãos de Ordem, o genial Sir Isac Newton que disse, há muitos anos: “A maçonaria não é uma obra exclusiva de uma época, pertence a todas as épocas e, sem aderir a nenhuma religião, encontra grandes verdades em todas elas. Não se apoia senão em dois sustentáculos, extremamente simples: O amor a Deus e o amor ao Homem, que leva em si a divindade e caminha para ela”.
            A história da maçonaria se perde no mistério dos tempos; estudos arqueológicos têm mostrado a presença de alguns dos nossos símbolos incrustados na antiga civilização egípcia; no entanto, sob o ponto de vista de registros documentados, o ano de 1717 é considerado um marco muito importante da maçonaria especulativa, quando foi criada a Grande Loja da Inglaterra.
                        De lá para cá os princípios da maçonaria tornaram-se imutáveis e nossa profissão de fé é repetida em todas as lojas maçônicas do mundo: “Creio em um só Deus, Supremo Arquiteto do céu e da terra, dispensador de todo bem e juiz infalível de todo mal”.
             Não gostaria de cair na tentação de enumerar os deveres, a conduta e, sobretudo como se deve pautar o relacionamento do maçom como cidadão, no meio da sua comunidade.
            Seria fácil e até tentador, pela obviedade das afirmações, seguir este plano, até porque todos os mandamentos de boa conduta poderiam ser encontrados em qualquer livro texto de boas maneiras; no entanto, resisto à tentação e enveredo pelo caminho mais árido, a conotação filosófica deste relacionamento.
                          Falar do maçom como cidadão é fazer um corolário sobre a ética e a moralidade; a moral representa o ponto mais alto da vida espiritual do homem e que é regulado por princípios emanados do Grande Arquiteto do Universo e ética é o conjunto de regras e preceitos de conduta moral de um individuo ou de uma sociedade.
                              Para simplificar o entendimento, podemos definir, parafraseando Oscar Wilde, estes dois “landmarks” da vida do cidadão com o seguinte enunciado:
                 “Tudo aquilo que o cidadão faz quando está em público chamamos de ética e se esta mesma ação, também não for feita quando ele estiver sozinho, chamamos de moralidade”.
            O maçom, como cidadão, assume um compromisso espontâneo e solene diante da sua própria consciência: a luta contra suas próprias fraquezas, buscando sempre o elevado sentido da vida no aperfeiçoamento da moral.
            Ao cidadão comum que bate pela primeira vez à porta do nosso templo, não lhe é perguntado sobre seus bens materiais, sua profissão, se possui brasões de nobreza ou títulos definidores da sua intelectualidade, apenas lhe é perguntado se ele é um cidadão livre e de bons costumes.
                        Esta senha, que não é apanágio da maçonaria, abrirá não só as portas do templo maçônico para o profano que pretende se iniciar em nossa ordem, mas também é a chave que conduzirá todos os homens ao interior do “templo da humanidade”, porque ela é condição “sine qua non” para que um indivíduo possa ser considerado um cidadão com todos os direitos e deveres inerentes a esta condição.
                        A liberdade, para nós maçons, é o fundamento da moralidade e esta é o alicerce das nossas ações, permitindo ou até mesmo facilitando que ele, o maçom, ocupe posição de relevo perante a sua sociedade; esta posição carrega em seu bojo uma carga de obrigações que o demanda a compor com os elos desta corrente Institucional que está constituída há muitos séculos e que resistiu à prova do tempo.
                        Se a carga positiva de ações acumuladas por esta Instituição poderá facilitar as movimentações do cidadão maçom no mundo profano, também encerra uma responsabilidade muito maior da que é cobrada a outro cidadão não Maçom.
                        Sua vida e suas ações, como um espelho, refletem e ecoam; para conviver com os demais cidadãos que não ultrapassaram os umbrais do nosso templo, ele precisa libertar-se das suas próprias ambições, saber palmilhar o caminho escuro da incerteza, buscando sempre a lei moral como estética de conduta; fugir do mal e do erro, na constante perseguição da harmonia e do belo.  
                        Como cidadão, o maçom precisa sentir a nobreza da própria generosidade, de tal forma que se foi ele quem semeou, não seja ele quem vai colher os frutos da sua própria semeadura; por ser livre, nunca imporá a sua fortaleza diante do fraco; não dogmatiza a sua verdade, se esta verdade não possui foro de verdade aceito e comprovado; o seu direito termina quando começa o do seu vizinho.
                        O cidadão-maçom, nas palavras do meu inesquecível amigo e irmão de Ordem, Dr. José Normanha de Oliveira “Deve tentar responder a esta inquietante pergunta todos os dias da sua vida: Nascemos com coração e razão, somos itinerantes da eternidade, em trânsito para a perfeição. Para onde nos conduz esta marcha inexorável e continua do tempo, que transforma, a cada momento, o pequeno e efêmero presente em passado?”.
                        A resposta a esta inquietante indagação o cidadão-maçom encontrará na filosofia da nossa Ordem, porque ela prepara o terreno onde florescerão a justiça e a paz; sua arma de duelo é a espada da inteligência, ela exalta tudo o que une e aproxima as pessoas e repudia tudo aquilo que divide e as isola.

            Nossa Ordem é muito mais que um grupo de pessoas que se reúne para um objetivo exclusivamente social e filantrópico; ela é, antes e acima de tudo, uma entidade filosófica que procura influenciar o mundo ao seu redor com seu modelo de pensamento, cujo desiderato é o respeito pela pessoa humana e o bem estar da comunidade. 

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A MAÇONARIA E SUA ESTREITA RELAÇÃO COM O HOMEM PERFEITO

A Ordem Maçônica sempre cultivou a aproximação com grandes vultos das artes e da literatura universal, pois os mesmos sempre habitaram nossos templos; recebemos luzes e damos, como reciprocidade, sinceridade e fraternidade.Fazemos intercâmbios!

A Ordem, como entidade separada da grande sociedade, sempre teve influência na vida dos grandes pensadores da humanidade. Não vou cair no lugar comum de nominar essas figuras; o grande público poderá reconhecê-los, baseado na repercussão das suas vidas.

Apenas como curiosidade histórica, permitam-me citar o genial Wolfgang Amadeus Mozart, iniciado na maçonaria em uma época de grande dificuldade de relacionamento entre nossa instituição e os Estados monárquicos. Mozart foi influenciado pelos influxos do iluminismo da nossa Ordem, não como artista, pois o gênio ja nasce gênio, mas sim na sua vida privada, em relação à grande sociedade.

A maçonaria deu-lhe guarida em momentos de dificuldade existencial, facilitando, de alguma maneira, a realização da sua magistral obra. Sabemos que o que se cria em sociedade tem mais vida do que aquilo que se cria na solidão.

Tenho arquivado nos meus guardados, cópia de um bilhete que Mozart enviou a umas irmão da Ordem, na semana que estreava a ópera de sua autoria Cosi Fan Tutte :



Salzburgo, 20 de janeiro de 1790

Querido irmão Puchberg,

Se você puder, empreste-me outros 100 florins.

Sinceramente, seu irmão

W.A. Mozart



Provavelmente, muitos leitores podem estar se perguntando: que entidade é esta que se propõe, como está dizendo o articulista, influenciar os homens. Sabemos que a maçonaria continua sendo um mistério para boa parte da população; para muitos porque estes não se interessam em buscar respostas para suas dúvidas; para uns poucos, por juizo preconceituoso e apressado.

Para tentar esclarecer estes e aqueles, gostaria de definir a maçonaria, copiando o que nos diz o historiador José Castelani : « É uma instituição iniciática, filosófica, filantrópica e evolucionista. Proclama a prevalência do espírito sobre a matéria, pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever. Suas finalidades são : liberdade, igualdade e fraternidade. »

Podemos, também, ouvir o maçom Fichte, famoso filósofo alemão do século 18, amigo de Emanuel Kant : « É uma instituição destinada a cancelar a unilateralidade da cultura recebida pelo homem na grande sociedade e elevar esta cultura, constituida pela metade, à cultura universal e puramente humana. » Se a definição de Fichte é mais sintética, também nos obriga a tentar explicar para os leitores, o que imaginamos que a nossa Ordem possa dar para a cultura universal.

Cultura para a religião: Como cidadão do mundo espiritual, devemos impedir que a religião seja unilateralmente concebida, interferindo em nossas ações e dirigindo nosso intelecto.

Cultura para o Estado: É o estabelecimento da íntima ligação entre o sentimento do direito e a consciência do cidadão. Em outras palavras, observar, como maçom, com a mais escrupulosa exatidão, as leis do seu país. Estas, por mais deficientes que sejam, são sempre melhores do que nada. No entanto, a imposição das autoridades não pode levá-lo a raciocinar como se existisse apenas o seu país, porque fazemos parte da humanidade inteira. Se as leis editadas por estas mesmas autoridades são consensualmente contrárias à justiça, o maçom não se propõe a cumpri-las. Não faz isto simplesmente por ser maçom, mas sim como homem de caráter integro.

Cultura para a Educação: É o despertar para nossa capacidade, como racionais, de dominar e proteger a natureza. É o uso de instrumentos da razão para transformar o homem, com reentrâncias do caráter semelhantes a uma pedra bruta, ainda não polida pelo cinzel do pedreiro, em um indivíduo justo e de atitudes perfeitas.

Quais são os meios de que a Ordem maçônica dispõe para cumprir este desiderato ?

O ensinamento e o exemplo, respondem em uníssono, a voz dos obreiros da Arte Real, acumuladas através dos séculos; o ensinamento propicia o saber, porém, não pressupõe condições para agir. A decisão, a ser emanada do seu foro íntimo, poderá levá-lo a concretizar esta etapa com sabedoria. Se, ao lado desta disposição, comparando nossa vontade e o desejo de executar a ação, com atitudes positivas que assimilamos de quem acreditamos, leva-nos a pensar que estamos trilhando o caminho da razão.

Muitos leitores, por não pertencerem à nossa Ordem, indicariam uma terceira via, a via da emoção, ou seja, a tentativa de atingir o alvo sensível do interlocutor, o seu coração, como fazem muitos oradores publicos.

Comovendo o indivíduo, fazendo-o verter lágrimas emocionadas podemos, de fato, conduzí-lo a uma efêmera boa ação; após enxugar os olhos, com o desaparecimento do embaçamento momentâneo da visão, passado a êxtase do espírito, ele é o mesmo homem de antes.

Mesmo que o leitor jamais entre em uma loja maçônica, espero que possa acolher em seu coração o sentimento maçônico, segundo o qual tudo o que diz respeito à humanidade e à sua evolução desperta nossa atenção e interesse.

Não afirmo que os maçons são necessariamente melhores do que os outros homens, e, tampouco, que não se consiga alcançar a mesma perfeição fora da Ordem. O que afirmo, respaldado em séculos de imutável ritualística, é que o maçom tem obrigação de, pelo menos, se equiparar aos melhores homens e mulheres da grande sociedade.



terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Presença de Deus nas lojas maçônicas

Existem dois dogmas considerados pétreos na maçonaria: A crença no Grande Arquiteto do Universo e a Imortalidade da alma; nenhum candidato a pertencer a Ordem poderá ser admitido se não responder afirmativamente a crença nestes dois pré-requisitos.O iniciado percorrerá, ao longo da sua vida maçônica, um longo caminho na procura da verdade, metafisicamente falando, à procura do absoluto; aprendemos com Hiram, o construtor do templo de Salomão (2 crônicas II–13), segundo pensamos, um dos nossos irmãos do passado, esta terrível e ao mesmo tempo intrigante constatação:Viver não é toda a vida, indicando, para quem tem ouvidos para ouvir, que deverá haver uma existência futura.Esta afirmativa ecoa, para nós Cristãos, nas palavras de Jesus que disse: Eu sou a ressurreição e a vida!Não iremos voltar à história longínqua do passado da nossa Ordem, fase a que, embora, histórica e filosoficamente, os iniciados podem ter acesso e comparar com os nossos manuais, mas que, para o profano, muitas vezes possa parecer que estão encobertas por lacunas documentais, cujos ecos reverberam nas curvas dos séculos.A moderna maçonaria foi instituída na Inglaterra a partir de 1717 e está toda alicerçada em um documento promulgado em 1723 e que se tornou a viga mestra da nossa Instituição: A Constituição de Anderson; a partir daí, até os dias atuais, nenhuma cláusula pétrea desta Constituição foi modificada por qualquer corpo maçônico de todo o mundo.Este documento foi escrito por James Anderson, um pastor protestante escocês, que compilou e ordenou os velhos arquivos, comparando-os e conciliando-os com a cronologia da história do mundo.Interessa-nos, para o momento, destacar deste documento o seu 1º Capítulo: Deveres para com Deus e a religião, onde se lê ipsis litteris (na tradução do original inglês): “Um maçom é obrigado, por sua condição, a obedecer à Lei moral; e se compreende bem a Arte, não será jamais um Ateu, nem um libertino irreligioso (grifos nossos). Mas se bem que nos tempos antigos os Maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da religião, qualquer que fosse, desse país, contudo é considerado mais conveniente de somente os sujeitar àquela Religião sobre a qual todos os Homens estão de acordo, deixando a cada um suas próprias opiniões; isto é, serem Homens de bem e leais, ou Homens de Honra e de Probidade, quaisquer que sejam as Denominações ou confissões que os possam distinguir”. Em 1949, as três Grandes Lojas da Inglaterra, Irlanda e Escócia, fizeram a seguinte declaração conjunta (resumo):“A primeira condição para ser admitido na Ordem como membro é a fé no Ser Supremo. Condição considerada essencial e que não admite contemporização; a segunda é que a Bíblia, considerada pelos maçons como o Livro Sagrado da Lei, permaneça aberta em Loja. Todo candidato deve prestar seu juramento de compromisso sobre este livro sagrado, nos três troncos religiosos monoteístas, a saber, o Hebraísmo, o Cristianismo e o Islamismo, segundo sua crença pessoal, dando caráter solene a seu juramento ou a promessa por ele feita”.No Brasil, um dos maiores críticos da maçonaria, por razões que não cabe aqui discutir, frei Boaventura Kloppenburg, no Capítulo VI do seu livro publicado em 1961 “A maçonaria no Brasil – Orientação para os católicos” afirma:“A maçonaria merece, sem dúvida, nossos mais vivos aplausos pelo fato de manter, intransigentemente, em repetidas e solenes declarações de princípios, a crença num Ser Supremo e mesmo na espiritualidade da alma e no primado do espírito sobre a matéria. Na vigorosa afirmação deste princípio não podemos incriminar a maçonaria; pelo contrário: deve merecer o nosso reconhecimento e louvor (nosso grifo)” Há de se considerar, ainda, que a maçonaria considera esta crença em um Ser Supremo como uma doutrina Teísta, tendo sido sufocada pelas discussões, a ideia do Deismo no seu seio.Albert Pike, autor de uma das mais impressionantes obras da maçonaria universal (Moral and Dogma of Freemasonry, 1871) afirmou neste mesmo livro que “A fé presente em um homem pertence-lhe tanto como a sua razão. No homem, o Divino está unido ao humano”.Embora o filósofo espanhol Ortega y Gasset não tenha sido um maçom, permito-me repetir uma das suas famosas frases para fazer ilações com o que disse Pike: O homem é ele e suas circunstâncias!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Diário da Manhã – 21 de julho de 2008

MOZART – A flauta mágica e a maçonaria

No dia 27 de janeiro de 1756 nascia em Salzburgo, Áustria, aquele que viria a ser uma estranha força, mistura de gênio e simplicidade, luz que irradiou energia para toda a Europa Central e deu forças ao iluminismo para clarear as mentes, ainda resistentes, à novas idéias - nascia Wolfgang Amadeus Mozart.
Falar sobre a genialidade de Mozart é ser repetitivo e provavelmente não conseguiríamos acrescentar quase nada ao riquíssimo arsenal bibliográfico existente.
Gostaria de enfocar alguns aspectos da sua vida maçônica, principalmente os ligados à ópera Flauta Mágica; advirto, no entanto: não tenho a pretensão de esgotar este assunto.
Inicialmente é importante salientar que Mozart foi iniciado na maçonaria em Viena, no dia 21 de setembro de 1784, na Loja maçônica denominada “Beneficência”; nesta mesma Loja foi também iniciado, por sua intermediação, seu pai Leopold.
Muitos biógrafos que estudaram e continuam a estudar a vida musical de Mozart reconhecem que a sua obra recebeu, após este acontecimento, uma profunda e definitiva influência da filosofia maçônica.
Por não ter capacidade, por falta de formação para discutir, como devia, sobre este assunto, valho-me da opinião de alguns estudiosos insuspeitos, por não serem maçons, que se debruçaram com olhos críticos sobre a sua obra.
Apenas para citar dois, reporto-me aos autores H.C. Robbins Landon - Mozart and the Masons, USA,1983 e Katharine Thomson – The Masonic Thread in Mozart, London, 1977; ambos não só confirmam a assertiva acima referida como tecem considerações a este respeito: “Não precisa ser muito entendido em música para se perceber, após aquele episódio da sua iniciação na Ordem, a presença do simbolismo maçônico na harmonia de várias das suas composições, para não se falar das obras declaradamente maçônicas, como a “Alegria maçônica – K 471”, considerada uma obra prima, hinos para abertura e fechamento da Loja Maçônica e muitas outras”.
A atmosfera de franca fraternidade que encontrou no interior das Lojas Maçônicas e, principalmente, a beleza dos ritos maçônicos, aguçou, se isto fosse permitido afirmar, ainda mais a sua sensibilidade musical; começa-se a perceber, diz o citado Robbins, algumas nuances do simbolismo da iniciação na suas composições.
O ambiente de uma sessão maçônica é sempre cordial, a movimentação dos irmãos tem como pano de fundo, a musicalidade; hoje, como na época de Mozart, um Mestre de Harmonia comanda a seleção musical; atualmente com a ajuda de aparelhos de som, na época de Mozart à custa de instrumentos tocados por elementos da própria Loja.
Mozart, certamente, participava desta atividade, provavelmente procurando novas tonalidades, como a preferência pelo “mi bemol maior”, devido à presença de três bemóis na sua armadura (três é um número de grande simbolismo na maçonaria).
A ópera “A Flauta Mágica” foi o coroamento de toda esta transformação; hoje não cabem mais discussões entre os iniciados na Ordem: esta obra é uma Ode à Maçonaria, todo o seu roteiro tem como fonte, a ritualística maçônica.
Ao analisá-la é necessário tecer algumas considerações preliminares a respeito do ambiente político da época em que ela foi concebida.
A Flauta Mágica foi exibida pela primeira vez no dia 30 de setembro de 1791, ano em que a Ordem Maçônica passava pelos momentos mais difíceis da sua existência dentro da Áustria. Morre José II, considerado um “déspota esclarecido”, pois era um Imperador liberal, com atitudes tendentes a favorecer o florescimento da Ordem, tirando-a, inclusive, da clandestinidade.
Ano que as monarquias da Europa estavam sob o fogo cruzado das idéias emanadas dos revolucionários franceses e que culminaria com a Revolução Francesa.
A maçonaria, pelas suas características de entidade tida como secreta, era alvo de desconfiança dos mandatários, principalmente pela presença de vários maçons entre os revolucionários franceses; inicia-se, como corolário destas desconfianças, uma incrível perseguição aos maçons austríacos.
Justamente neste momento de máxima conturbação, Mozart resolve produzir a Flauta Mágica; um hino à virtude, um desafio ao obscurantismo das idéias e à escuridão do pensamento ultrapassado; seu enredo simboliza a luta secular da maçonaria: Luz versus Escuridão.
Na sua estréia, um maçom que passou para a história como um dos gênios da literatura, o imortal Goethe, assim se referiu, ao término do espetáculo: “Trata-se de uma obra carregada de simbolismo; os iniciados irão entendê-la e amá-la, o restante do público irá apreciá-la com emoção”.
Por que Mozart resolveu fazer a Flauta Mágica? Seria com a idéia de confrontação ou apenas para deixar um legado das suas convicções maçônicas? Seria o somatório das duas primeiras opções mais a necessidade financeira?
Voltarei ao assunto!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA AMERICANA

Os eventos que culminaram com a Guerra da Independência Americana tiveram a participação de um grande numero de organizações,; dentre elas destacam-se a Maçonaria e uma outra que era denominada “Irmãos da Liberdade”.
Embora a Declaração da Independência Americana não possa ser considerada como um documento maçônico, pode-se observar, nas suas entrelinhas, alguma retórica e frases maçônicas.
Já a Constituição dos EE.UU. é, realmente, um documento maçônico; quando se convocou a Assembléia Constituinte para elaborá-la, a maçonaria teve uma influência extraordinária, dominando completamente os debates por intermédio de alguns de seus membros, todos eles líderes incontestes.
Por ocasião da Assembléia Constituinte a maçonaria era a única organização, das que participaram ativamente dos eventos que levaram à Independência, a se manter ativa e funcionando normalmente; outras, que também tiveram participação no desenrolar dos acontecimentos, como a já citada “Irmãos da Liberdade”, já haviam sido dissolvidas, por julgarem já terem cumprido seus propósitos.
É claro que a Constituição Americana acabou sendo um produto elaborado por muitas mentes e muitas mãos, não somente por maçons; embora a liderança de todas as discussões coubesse a Thomas Jefferson e ele, possivelmente, não tenha sido um maçom, como muitos imaginam, estava sempre acompanhado, como a historia registra, por quatro espíritos altivos e lideres incontestes: Washington, Franklin, Randolph e John Adams.
Foram estes quatro homens quem, realmente, escreveram a Constituição
Americana,; os três primeiros eram maçons, seguidores fiéis da filosofia e da ritualística da Ordem, e Adams, embora não fosse maçom, tinha os mesmos ideais dos outros três líderes.
Os apontamentos históricos confirmam esta assertiva: em todos os debates e discussões surgidas para a redação da Constituição Americana, Adams esteve, sempre, de acordo com Washington, Franklin e Randolph; a nova republica que emergiu, apresentava, portanto, uma imagem que refletia os ideais maçônicos; quando Adams, mais tarde, se tornou Presidente dos EE.UU., indicou um proeminente maçom, John Marshal, para ser o primeiro Chefe de Justiça da Suprema Corte dos EE.UU. e, foi Marshall quem estabeleceu que a Suprema Corte deveria se posicionar em pé de igualdade com o Legislativo e o Executivo, como ocorre até os dias atuais.
No dia 4 de fevereiro de 1789, Washington foi eleito o primeiro Presidente dos EE.UU. e John Adams seu Vice-Presidente e a cerimônia de juramento de posse do Presidente eleito foi comandada por Robert Livingston, Grão Mestre da Grande Loja de Nova York; o comandante da tropa da Guarda do dia foi outro maçom, O General Jacob Morton e um outro maçom, O General Morgan Lewis foi o Comandante da escolta de Washington.
A Biblia utilizada para o juramento foi a da Loja maçônica São João, de Nova York; George Washington, quando tomou posse na Presidência, era Venerável da Loja Maçônica Alexandria, de Virginia.
No dia 14 de dezembro daquele ano foi fundado o Banco Nacional dos EE.UU. e, nas notas de “um dólar” foi colocado o “Grande Selo”, que é mantido nestas cédulas nos dias atuais. Trata-se de uma simbologia maçônica “Vê-se um olho no triângulo colocado acima de uma pirâmide de 13 degraus e com quatro lados; logo abaixo da pirâmide, vê-se escrito em pergaminho a proclamação: Novos Ordo seclorum – Nova Ordem Secular, um dos sonhos maçônicos”.
A cerimônia de colocação da pedra fundamental do Capitólio foi comandada pela Loja Maçônica, à qual George Washington pertencia; o malhete, a colher de pedreiro, utilizados na colocação do cimento estão hoje em poder da Loja maçônica Potomac, no distrito de Columbia, em Washington, e o avental e a faixa maçônica que foram utilizadas por Washington estão em poder da loja onde ele iniciou-se na Ordem.
Como sabemos, o Capitólio e a Casa Branca tornaram-se pontos focais da política americana;, o traçado destas duas áreas, como pretenderam Washington e Jefferson, é o desenho de duas octogonais, incorporando, por conseguinte, a cruz dos templos maçônicos ao mapa da cidade.
George Washington morreu em dezembro de 1799, tendo sido enterrado em Mont Vermont, com todas as honrarias maçônicas, com a presença de todos os Irmãos da sua Loja fazendo guarda de honra e depois transportando o seu caixão para a sepultura e ao encontro do Grande Arquiteto do Universo no Oriente Eterno.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O PENSAMENTO FILOSÓFICO DA MAÇONARIA


Hélio Moreira



Não é costume da maçonaria discutir sua doutrina fora dos seus templos, porém, sintonizado com a necessidade de maior aproximação com o mundo que nos rodeia, ao qual todos nós pertencemos, levou-me a tomar a decisão de expor um pouco da nossa filosofia, do nosso pensamento.
Permitam-me, que num esforço de síntese, provavelmente superior à minha capacidade intelectual, possa trazer-lhes algumas considerações sobre nossa filosofia de pensamento, nosso simbolismo.
No inicio do século XVIII apareceu em Londres uma sociedade, provavelmente já existente antes (há passagens bíblicas superponíveis ao seu simbolismo), ao qual ninguém sabe dizer de onde vinha, o que era e o que procurava. Expandiu com incrível rapidez pela Europa Cristã, principalmente na França e Alemanha, chegando até a América. Homens de todas as classes sociais, étnicas e religiosas entraram para o seu circulo – chamavam-se, mutuamente, de Irmãos.
Esta sociedade, intitulada Associação dos Pedreiros Livres, atraiu a atenção dos governos; foi perseguida; foi excomungada por dois Pontífices; suas ações levantavam suspeitas odiosas. No entanto ela resistiu a todas estas tempestades, difundindo-se, cada vez mais, até chegar aos nossos dias.
Podemos dizer que basicamente existem três correntes de pensamento maçônico:
- Maçonaria inglesa, de cunho tradicionalista, observadora e seguidora dos rituais; mantém-se imutável nos seus três séculos de existência documentada. É estática e conservadora.
- Maçonaria francesa, embora originária da Britânica, sofreu alterações através dos tempos, ditadas pelas condições do meio em que se desenvolveu, adquirindo feição mais latina, tornando-se conhecida pela ação exercida por seus membros, como cidadãos, nas áreas política, social e religiosa. A maçonaria brasileira e dos demais países hispano-americanos são, filosoficamente, a ela filiados.
Formada no meio hostil e intolerante à liberdade de pensamento, partiu para a luta que visava transformar estas condições adversas. São muito vivas e documentadas as lembranças de sua participação na Revolução Francesa, quando sobressaíram grandes maçons como Danton, Robespierre e Diderot; na independência de quase todos os países da América Latrina, com a participação efetiva de notáveis maçons, como Simon Bolívar, San Martim, Sucre e Francisco Miranda; na independência do Brasil e na proclamação da republica, para citar alguns irmãos da Ordem, como Dom Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Deodoro da Fonseca, Rui Barbosa, Floriano Peixoto, Quintino Bocaiúva, dentre outros.
- Maçonaria Alemã, voltada para os estudos filosóficos de alta indagação: Goethe, Kant e Fichte são exemplos de filósofos e literatos que honraram nossa Instituição com suas adesões.
A maçonaria resistiu à prova do tempo, enquanto muitas outras organizações, aparentemente similares, desapareceram. Isto aconteceu porque ela é, por principio, uma Instituição com propósitos universalistas. A “sociedade separada dos maçons” se distingue da “grande sociedade humana” porque ela se isola para impedir a visão unilateral da divisão de trabalho, atingindo, com isto, a síntese da cultura humana.
A Igreja se opõe a outras Igrejas, o Estado a outros Estados, a Maçonaria não; ela toca no santuário do espírito, o problema ético individual; ela atua sobre a república dos espíritos, administra o pluralismo de opiniões.
Esta Instituição exalta tudo o que une e aproxima as pessoas e repudia tudo aquilo que divide e as isola. Isto acontece porque ela aspira, por principio, fazer da humanidade uma grande família de Irmãos e para atingir este desiderato, se põe sempre a serviço dos movimentos moralizadores e dos bons costumes.
Ela prepara o terreno onde florescerão a justiça e a paz. Sua única arma é a espada da inteligência; sabe que o único modo de produzir, mesmo socialmente, uma mudança profunda e durável de uma sociedade, é trabalhar para modificar a sua mentalidade.
Os pilares que sustentam esta vontade indomável de transformar, primeiro o homem e, por corolário, todo o universo dos homens, são três palavras mágicas: liberdade, igualdade e fraternidade.
“O amor à liberdade foi-nos dado juntamente com a vida e dos presentes do céu, o de menos valor é a vida” afirmou Goethe, o famoso literato alemão e nosso Irmão de Ordem; afirmo eu, corroborado pelos registros da história, que em nenhuma parte do mundo, jamais houve um grito de liberdade para um povo que não houvesse sido apoiado pela Maçonaria.
A liberdade é a essência intima e supremo desejo do homem e os indivíduos, pela sua colaboração mútua, visam criar uma alma coletiva; embalados pelo sopro do vento que libera os grilhões do obscurantismo, “A filosofia verdadeira, no dizer do grande filósofo e irmão de Ordem, o alemão Fichte, considera o pensamento livre como a fonte de toda a verdade independente”.
No que diz respeito à igualdade, a maçonaria reconhece que todos os homens nascem iguais e as únicas distinções que admite são o mérito, o talento, a sabedoria, a virtude e o trabalho.
Para dizer o pensamento da Ordem sobre a fraternidade, peço licença para repetir o que disse outro maçom, o imortal Victor Hugo: “A civilização tem suas frases, estas frases são séculos. A lógica das frases, expressão da idéia Divina, se condensam na palavra Fraternidade”.